quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Exercício de Semiótica que Virou Texto, Virou Postagem: Minha Rua



Ela está escondida no meio de tantas outras. Coberta por pedras já tem um tempo, indício disso é a vida que brota verde e com vontade no meio das pedras. Vontade de quem já está aqui há algum tempo e já se sente em casa. Para uns rua, para outros lugar, alguns encaram apenas como passagem.

Do alto, da sacada não dá para ter uma impressão formada. Ela se forma com o contato, com o pisar nas pedras, o olhar para o lado e ver que nesta rua, neste lugar, nesta passagem não estou sozinho. Quem me acompanha? Os moradores do 36 no começo ou os do 325 mais no fim? Se não for ninguém, ao menos a vida, aquela dos matos que se entremeiam nas pedras me olham silenciosamente.

Aquele menino que mora lá no começo da rua saiu de novo para brincar. Dessa vez será que ele fica por muito tempo ou sua mãe, impaciente como é, irá busca-lo aos gritos? Por falar em gritos, o trem está passando, berrando para ninguém entrar em seu caminho. Não o enxergo daqui, mas ele grita para todos ouvirem, por isso sei que está lá. Ele tem uma rua só pra si. Isso é privilégio ou solidão?

O tempo vai passando, as pessoas e alguns carros também passaram e se perguntaram silenciosamente: O que esse cara está fazendo olhando e anotando, olhando e anotando? Elas fazem parte de uma história, de uma rua, de uma cidade que tem tanta história.

Quantas pessoas já passaram por aqui? Quantas coisas já aconteceram nesta rua? Sorrisos, choros, paixões, as coisas muitas vezes acontecem e nem estamos atentos para percebe-las. Falando em perceber, o homem já consegue fotografar e perceber essa rua do espaço. Quando vi uma foto dela, não vi muita coisa, mas vi mais que consigo ver com o simples olhar da sacada.

Enquanto o sol vai descendo, as janelas das casas começam a se fechar. É hora de perguntar quantos Geraldos, Inês e Ferreiras passaram por aqui. Quem foi esse tal de Geraldo Inês Ferreira que deu nome à rua? Alguma importância ele deve ter tido alguns poucos ou alguns muitos anos atrás. Não o conheci, nem ele me conheceu, muito menos sei de sua história. Mas, acho que meio sem querer acabei entrando nela sem pedir licença. Vou indo sem pedir licença pra sair, deixar a rua com suas personagens, com sua vida e sua história que não começou nem acaba aqui, apenas vai acontecendo sem que alguém perceba.

1 comentários:

Naiara disse...

Caramba! Gostei de seu texto! deu vontade de conhecer a tal rua, até mesmo o ser que deu esse nome a ela!
E será privilegio ou solidão ter uma rua so para si! fiquei pensando nisso!